26 agosto 2006

E a novela sobre Plutão continua...

Cientista dos EUA protesta contra "expulsão" de Plutão
Para chefe de missão da Nasa ao ex-planeta, nova definição é uma "vergonha". Segundo Alan Stern, critério novo deixaria até a Terra de fora da categoria planetária, se fosse seguido com rigor; uruguaios festejam decisão.

A saga do planeta rebaixado, pelo visto, ainda não terminou. Após a votação histórica da União Astronômica Internacional que anteontem mudou Plutão de categoria e deixou o Sistema Solar com apenas oito planetas verdadeiros, um grupo de astrônomos criticou ferozmente a decisão. Segundo eles, a nova definição de planeta, além de cientificamente furada, foi adotada por critérios pouco democráticos.
O mais barulhento dos opositores é Alan Stern, do Southwestern Research Center, em Boulder (EUA). Ele chefia a missão New Horizons, que a Nasa (agência espacial dos EUA) enviou a Plutão no começo do ano. Quando chegar ao astro, em 2013, a sonda estudará apenas um "planeta-anão".
Ou não.
"Vamos ver uma reviravolta. Sei que há uma petição entre cientistas planetários que está ganhando muito apoio", disse Stern à revista "New Scientist".
Apesar de a definição da IAU (União Astronômica Internacional) ser oficial, ela pode não ser adotada no dia-a-dia por astrônomos que não concordem com ela, já que a união não tem poder de puni-los.
Stern diz que a resolução da IAU que define planeta é "horrível". "Como cientista, estou envergonhado."
Para o americano, o critério adotado na nova definição, segundo o qual um planeta verdadeiro precisa "limpar a vizinhança de sua órbita", é falho, e somente quatro dos oito planetas "oficiais" do Sistema Solar o preencheriam. A Terra, por exemplo, possui em sua vizinhança orbital vários pequenos asteróides. Marte, Júpiter e Netuno são cercados pelos chamados asteróides "troianos".
O também americano Owen Gingerich, chefe do Comitê para Definição de Planeta da IAU, disse que a votação de anteontem em Praga foi "seqüestrada" por astrônomos dinamicistas, que estudam a gravidade e o movimento dos objetos celestes. O comitê trabalhara por dois anos numa definição de planeta que valesse para o Universo inteiro, pela qual o Sistema Solar ficaria com 12 planetas (além de Plutão, seu satélite Caronte, o asteróide Ceres e o misterioso "Xena" entrariam na conta). A moção perdeu.
Gingerich e Stern dizem ainda que não houve representatividade na votação. Menos de 5% dos 9.000 membros da IAU estavam em Praga. A decepção dos americanos provavelmente tem a ver com o fato de que foi um astrônomo dos EUA, Clyde Tombaugh, que descobriu Plutão em 1930. O (ex-)planeta é o único a ter sido identificado por um americano.
Festa uruguaia
No extremo oposto da revolta americana estão dois uruguaios. Julio Fernández e Gonzalo Tancredi, que se rebelaram em Praga contra os 12 planetas e acabaram provocando o rebaixamento de Plutão, disseram que a nova definição foi um "gol astronômico" para o país -que hoje está para o futebol assim como Plutão está para a classe planetária.
Fonte: Folha de São Paulo

Nenhum comentário: