10 dezembro 2007

A380 impressiona, mas visitantes se frustram com pouca inovação

Qualquer adjetivo que possa ser dado ao Airbus-A380, que ficou em exposição para convidados no Aeroporto de Guarulhos (Grande São Paulo) durante dois dias, não será mais forte do que o mais básico deles: grande.
Isso porque qualquer outra característica do avião advém do fato de ser grande. É confortável por ser grande. É o que pode levar mais passageiros porque é grande. E, para a felicidade da Airbus, chama a atenção das pessoas e das companhias aéreas porque é grande.
O tamanho do A380 e a curiosidade que isso proporciona é também o motivo para que a Airbus fizesse tour por vários países e aterrissasse no Brasil nesta semana.
Por dentro, há espaço de sobra. No meu grupo de visita havia um casal com filhos, e o mais baixo deles tinha pelo menos 1,80 m. O pai tinha quase 2 m. Se eles aprovassem o espaço, seria difícil alguém não gostar --e ao sentarem nos bancos da classe econômica, ficaram satisfeitos.
Ou seja, pelo menos no A380 o ministro Nelson Jobim (Defesa) não reclamaria --no alto dos seus 1,90 m-- de falta de espaço, assim como fez quando assumiu a pasta no auge da crise aérea.
No avião exposto no Brasil, a capacidade era de 519 passageiros. São 12 "felizardos" na primeira classe, 64 na executiva e 443 na econômica. Esta configuração é bastante moldável: se o dono do avião resolver ter apenas poltronas de classe econômica, a capacidade pode chegar a 853 passageiros.
Na questão inovação, o gigante não é tão prodigioso quanto no tamanho. As tecnologias para conforto e diversão dos passageiros não difere muito do já visto em outros aviões de grande porte. Controles de televisão, luminosidade ou acesso à internet nas poltronas chamam a atenção, mas podem ser encontrados nos concorrentes.
Uma das novidades que poderiam impressionar os visitantes no A380 --as suítes-- não foi instalada no modelo que veio ao Brasil. O que ajudou a deixá-lo mais "normal", na visão de quem pôde visitá-lo.
Usuário de transporte aéreo há 37 anos, o administrador rural Luiz Magalhães, 52, não se impressionou com o que viu. "Tem um pouco mais de espaço do que o 747. As janelas parecem menores, e não tem um verdadeiro espaço de estar", disse, lembrando da primeira vez que viajou para o exterior, aos 15 anos, em um avião que tinha até piano bar.
Ele fez parte do grupo de clientes do programa de fidelidade da companhia aérea TAM que foram agraciados com a visita, mediante acertar as questões de um quiz sobre o A380.
Para pessoas com um pouco menos de experiência de viagem, a visita parece muito mais interessante. Uma aposentada que também ganhou o convite, por exemplo, ficou bem satisfeita com o que viu. "Achei ótimo, olha como tem espaço para as minhas pernas", dizia, enquanto experimentava uma das poltronas da classe executiva. "Meu marido ficou morrendo de inveja porque eu ganhei a visita."
A curiosidade em torno do A380 e de seus números superlativos é o que faz sua fama --e renderá bons negócios para a Airbus e para as companhias aéreas que detiverem esses aviões.
Essa corrida fará com que as aéreas locais tenham um pouco de dificuldade para ter um A380 em suas frotas. Caso fizessem um pedido hoje, só receberiam o avião em 2011. E mesmo que companhias estrangeiras --como Lufthansa, Air France e Emirates-- resolvessem incluir o gigante nas suas rotas que incluem o Brasil, os problemas técnicos oriundos do fato do avião ser (adivinha?) grande tira por hora o país do mapa do A380.
Com 73 metros de comprimento, o Airbus tem 24,1 metros de altura e peso máximo de decolagem de 560 toneladas, além de ser equipado com quatro motores Rolls Royce modelo Trent900.
No ano passado, a Airbus registrou uma série de cancelamentos de pedidos do novo avião, devido aos atrasos na produção --o programa A380 está com um atraso de dois anos--, o que fez a empresa registrar forte prejuízo.
Texto de YGOR SALLES da Folha Online

Nenhum comentário: